Resenha: Nasce uma estrela



Nasce uma Estrela foi a quarta versão de refilmagens a chegar aos cinemas e conseguiu ser a melhor. Bradley Cooper, em seu primeiro trabalho como diretor, realizou um trabalho sólido e consistente ao demonstrar um talento a ser acompanhado sob uma visão sensível, única e imersiva sobre como seria a vida de uma estrela da música. Ao abusar de estética romântica e emocionante, o enredo entrega uma trama daquelas (tragam os lenços!).

A história nos apresenta Jackson Maine (Bradley Cooper), um cantor do Arizona, que se encontra no auge da fama. Certo dia, após finalizar uma apresentação, e por imprevisibilidade da vida, ele acaba parando em um bar um tanto quanto diferente. É quando o destino o coloca na vida de Ally (Lady Gaga), uma garota insegura que ganha a vida trabalhando em um restaurante e, nas horas vagas, dedica-se às canções. Após uma interpretação marcante de La Vie en Rose (de Édith Piaf) por Ally, Jackson se encanta por ela e seu talento, decidindo acolhê-la debaixo de suas asas.

A escolha da música não foi ao acaso! A cena parece refletir a letra do que ela canta que, em tradução livre, diz: “Aí está o retrato sem retoque do homem a quem eu pertenço.”

Ao mesmo tempo em que Ally ascende rumo ao estrelato, Jackson vive uma crise pessoal e profissional devido aos problemas com o alcoolismo.

O diretor consegue captar perfeitamente como seria a emoção e a energia de estar em um palco se apresentando a milhares de pessoas, o que demonstra sua confiança e controle absoluto por todo o projeto, acertando nas relações e na construção de seus personagens. É um trabalho quase irretocável, cujas cenas são memoráveis (como a primeira vez em que o casal se vê em um bar ou o uso do silêncio para priorizar a voz de Gaga na sequência do estacionamento). É possível perceber que o diretor correlacionou a condução das imagens à evolução das músicas da artista. Uma produção impecável que proporciona uma experiência intimista ao assistir o longa. O roteiro, escrito por Cooper em parceria com Eric Roth e Will Fetters, pode parecer inicialmente uma história simples e previsível, mas vai além, já que mostra a importância de encontrar sua essência em fazer arte, ter sua voz ouvida e ser relevante ao público. Contornando muito bem os clichês e estereótipos que seriam comuns ao gênero, o roteiro ganha força na complexidade dos protagonistas. Podemos entender suas expectativas, motivações, frustrações e também sentimento que nutrem um pelo outro com seus altos e baixos, seja Jackson descontando suas frustrações em drogas e bebidas, seja Ally com sua compulsão em tentar salvar seu amado.

O filme prende do início ao fim, com uma direção de fotografia impactante de Matthew Libatique que acompanha sempre de perto seus personagens, fazendo uso perfeito das cores (em especial o vermelho), o que cria um espetáculo visual visceral, tanto nos shows, quanto nos momentos dramáticos. A trilha sonora é espetacular e as canções originais são todas performadas pelos atores, o que traz uma veracidade incrível ao filme. Em especial, destaca-se a linda sequência em que a dupla demonstra toda sua química com a apresentação da música Shallow, a qual tornou-se a mais famosa.



A força do filme está em seus protagonistas e a química entre Cooper e Gaga é marcante, sendo esse o melhor trabalho de suas carreiras. Bradley Cooper abraça toda a melancolia e a depressão de seu personagem e consegue fazer com que o público sinta sua dor, desespero e solidão somente com um olhar perdido e uma postura frágil, consequências da infância dramática do personagem. É um trabalho delicado que não necessitou de gritos e nem situações surtadas para demonstrar sua decadência. Outra que brilha é Lady Gaga, que, em seu primeiro papel nos cinemas, mostra-se como mais uma escolha acertada de seu diretor, comprovando o talento dela, não só como cantora, mas também como uma atriz sensível, verdadeira e tocante.

“If I knew It would be the last time...
I would've broke my heart in two tryin' to save a part of you”

"Música é essencialmente qualquer nota entre doze oitavas. Doze notas e a oitava em repetição. É a mesma história contada de novo, e de novo. Tudo que um artista pode oferecer ao mundo é como ele vê aquelas doze notas”

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