O valor por trás do ônibus de "Na Natureza Selvagem"


O governo dos EUA removeu do Alasca o ônibus que marcou o fim da vida de Christopher McCandless, um jovem cuja história reverberou nos anos 1990 e depois virou um ótimo filme, em 2008. A nota do governo ressaltou o número de mortes e acidentes que os fãs da história, que resolveram seguir os passos do jovem, sofreram ao fazerem a caminhada solitária aos confins gelados do Alasca, tal qual McCandless fez.

Mas que ônibus é esse? Quem era esse rapaz? Qual o significado dessa história para as pessoas?


Christopher McCandless foi um jovem criado no seio de uma família tradicional americana de classe média, com formação superior especializada em história e antropologia. Quando falo "tradicional" entenda que citar isso é muito importante ao falar da família de McCandless para que se possa compreender os atos do jovem.

Com o passar do tempo e cada vez maior formação de pensamento crítico social, McCandless desenvolveu uma repulsa pelo materialismo e modo de vida atrelado a uma sujeição total ao sistema capitalista, algo enraizado na experiência de vida de seus pais.

Foi então que McCandless resolveu fazer o que ninguém de seu círculo social até então conseguiu entender: largou tudo para trás e desapareceu. E o fez tendo todo um futuro socioeconômico garantido; por isso seus pais e amigos, com mentes tão cimentadas e disciplinadas na cultura consumista de viver, concluíram que o jovem só podia estar louco ou mesmo que só estava querendo viver um tempinho de aventura para depois voltar a ser "normal".

Mas não era o caso. McCandless saiu em uma jornada nômade de autoconhecimento pelo país, conhecendo várias pessoas com vidas diferentes (lembra até um pouco as jornadas de desprendimento social de Jack Kerouac) e terminou suas viagens em um ônibus abandonado no interior do Alasca, onde morreu após comer frutas envenenadas.

O valor da história de McCandless reside justamente na crítica à cultura consumista desenfreada, que prende o ser humano a um modo de vida minimalista onde o valor da vida se resume à quantidade de bens que se tem, ao salvaguardo de patrimônios financeiros acima de qualquer outra coisa. E isso alimenta (de modo extremamente nocivo) o egoísmo, o individualismo, impedindo o fomento de empatia e bem-estar comum em diversos níveis. Desigualdade social, criminalidade, corrupção, imperialismo, entre outros aspectos negativos sociais sendo consequência de um capitalismo desenfreado.


A história de Christopher McCandless serviu de exemplo, como é o caso dos diversos fãs que resolveram trilhar os mesmos passos do aventureiro, em busca do ônibus abandonado. É um convite para a reflexão sobre o quão destrutivo o consumismo desenfreado possa ser e o quão frustrante psicologicamente ela pode tornar nossas existências. É um pedido de resposta para a pergunta "tudo o que dizemos a nós mesmos que queremos é o que de fato precisamos?"

Se puderem e ainda não viram, procurem o filme Na Natureza Selvagem, de 2008. Vale muito a pena.

Postar um comentário