Considerado o segundo
maior diretor de todos, apenas atrás de Orson Welles, pelo British Film
Institute e o diretor mais aclamado de todos os tempos pela pesquisa do site
They Shoot Pictures, o britânico Alfred Hitchcock merece ser celebrado todos
dias, especialmente nos dias 13 de agosto, data em que completaria em 2020, 121 anos de existência.
Durante sua carreira
profissional, Alfred deixou como contribuição mais de 50 longas-metragens, três
curtas e cerca de 127 episódios de programas para a TV. Um homem que conseguiu
desenvolver conceitos e técnicas que influenciaram toda indústria
cinematográfica, além de criar um estilo único que foi chamado de “hitchcockiano” que
serve de inspiração até os dias de hoje, principalmente para os filmes de suspense, gênero que resultou ao
britânico o título de “Mestre do Suspense”.
Nas palavras do cineasta
francês Jean-Luc Godard, Hitchcock era um diretor com domínio sobre o universo
que queria fazer o espectador entrar. Suas histórias são experiências visuais
únicas que desafiarão aqueles que assistem a identificar referências, resolver
mistérios e até mesmo investigar a psiquê dos personagens.
Vamos agora adentrar à
jornada de Hitchcock falando um pouco sobre sua vida pessoal e sua trajetória
cinematográfica. Ele conseguiu manter sua produção de forma constante durante todos
os anos de trabalho, conquistou o respeito dos estúdios e teve conflitos com a
crítica. Confira abaixo:
Vida Pessoal
Alfred Hitchcock e sua esposa Alma Reville |
Alfred Hitchcock nasceu em 13 de agosto de 1899, no bairro de Leytonstone, na região nordeste de Londres, tinha mais dois irmãos e era filho de Emma e William Hitchcock. A infância do diretor foi marcada por ser bem rígida e disciplinada, e uma das histórias mais contadas em entrevistas por ele era sobre seu pai ter forçado uma situação para que ele fosse preso, na intenção de fazer com que o pequeno Hitch tivesse medo de fazer algo ruim. Foi uma experiência marcante que nunca fora esquecida e provavelmente impulsionou a construção imagética dos policias em seus filmes, normalmente pessoas que não ganhavam os holofotes e muitas vezes se mostravam elementos indiferentes ou obstáculos para o andar da obra.
Hitchcock
também foi muito impactado pelo catolicismo por ter estudado na maior parte de sua
vida em um colégio fundado por jesuítas que adotava uma tradição religiosa
de estudo. A transgressão fez parte de sua jornada durante o colégio, embora tenha sido
um aluno esforçado e tenha alcançado um bom desempenho acadêmico, Alfred frequentemente pregava peças nos
sacerdotes e na vizinhança no geral.
O
curso de design pela Universidade de Londres foi o passo que Alfred tomou que o
fez ter seu primeiro emprego ligado a filmes. Começando como um designer de
letreiros para os filmes mudos de sua época, Hitchcock nunca mais se
desconectou do cinema. Inclusive, foi nos sets de filmagem que conheceu sua esposa
Alma Reville, com quem foi casado de 1926 até 1980, ano de sua morte.
Cena de The Lodger (1927) |
Como foi falado antes, Hitchcock começou sua carreira
como designer de letreiros e foi conquistando espaço na área de design de
cenário e mais tarde finalmente como assistente de direção. O primeiro filme oficial
como diretor foi o longa-metragem mudo The Pleasure Garden (O Jardim dos Prazeres, 1925) que já trazia
como tema elementos de homicídio e mistério, principais elementos da carreira construída por dele.
Contudo, o primeiro filme realizado por Hitchcock que
realmente o agradou e possuía mais claramente os princípios do que o seu famoso estilo ainda seria foi o clássico mudo The Lodger (1927) que investiga a história de um serial killer cujos
alvos eram mulheres loiras (outra constante nas obras do britânico) e era
inspirado nos casos do "Jack, o Estripador". Esse filme em particular já tinha um alcance técnico muito mais qualificado, isso se deve principalmente pela experiência do cineasta na Alemanha,
onde entrou em contato com Marnau, diretor alemão responsável pelos clássicos
Nosferatu (1922) e Sunrise (1927), que o instruiu ao movimento do
Expressionismo Alemão, algo já apreciado por Hitchcock e que lhe ajudou a
aprimorar suas habilidades em contar uma história visual estimulante e fora do
convencional.
Durante a década de 1920, o diretor tinha uma influência relevante apenas
no Reino Unido, mas foi com Blackmail em 1929 que Alfred Hitchcock acompanhando
a vida do detetive Frank Webber estreou o primeiro filme falado britânico que
resultou em seu destaque internacional e um marco fundamental de uma nova era para o cinema no Reino Unido.
Cena de Blackmail (1929) |
Outro filme que impulsionou ainda mais sua carreira fora de seu país natal foi o sucesso The Man Who Knew Too Much (O Homem que Sabia Demais – 1934). O clássico fez tanto sucesso que durante os anos 50 o diretor fez a versão mais conhecida do mesmo com James Stewart e Doris Day nos papéis principais. Finalmente, com o sucesso do filme The Lady Vanishes (A Dama oculta, 1938), considerado por muitos como o melhor de sua fase inglesa, foi o que levou o produtor americano David O. Selznick a convidar o realizador britânico a trabalhar na International Pictures nos Estados Unidos.
Cena de The Lady Vanishes (192 |
Cena de Rebecca (1940) |
Embora muitas de suas técnicas tenham começado durante sua
fase britânica, foi durante sua estadia nos Estados Unidos que elas foram
aprimoradas e consolidadas. Segundo Hitchcock não havia diferença entre os
estúdios americanos e os britânicos, assim que as portas fechavam o trabalho
era feito normalmente, afinal, em suas palavras: "Uma mina de carvão é sempre uma mina de carvão". E assim foi, seu filme de estreia dessa nova era recebeu o título de Rebecca (1940) e foi uma adaptação de uma obra literária sobre uma mulher que vive sobre a
sombra de Rebecca, a falecida ex-esposa de seu marido. No entanto, a obra ainda
possuía tanto uma estética como um elenco muito britânico. Mas, mesmo assim, teve
seu sucesso e acabou conquistando o Oscar de Melhor Filme.
O voyeurismo hitchockiano, o contraste entre a culpa e
a inocência, o universo detalhado em seus cenários, o MacGuffin (objetos que
servem para avançar a história, mas sem uma importância direta para o contexto
geral) e o conceito do “Vilão Inocente” foram cada vez mais desenvolvidos e
ganhando atenção da plateia. Esses elementos foram construindo a identidade de Hitchcock durante os anos e por ter se tornado popular o cineasta tinha uma maior liberdade criativa e era respeitado pelos grandes estúdios.
Hitchcock tinha um domínio da linguagem
cinematográfica tão preciso que conseguia contar uma história em um único
cenário imerso em uma única situação e deixar o espectador íntimo e apreensivo durante todo o
tempo, como realizou em Rope (Festim Diabólico, 1948). Além disso, havia também exatidão na construção de planos como aquele com conceito de "mergulho", o qual passa por diversas situações apenas para revelar algo fundamental para
o espectador como em Notorious (Interlúdio, 1946).
Cena de Rope (1948) |
O domínio da linguagem corporal de seus personagens
observada em Um Corpo Que Cai (Vertigo, 1958) e o ápice da presença do espectador
no longa visto em Janela Indiscreta (Rear Window, 1954) construíram clássicos e fizeram com que a década de 50 fosse uma fase dourada para o realizador, principalmente em popularidade. Mas ainda não havia conseguido convencer a crítica americana.
Hitchcock era querido pelo público, mas os críticos faziam um julgamento superficial acerca de suas obras por sair da curva do que era considerado um “Cinema de Arte”. Contudo, jovens cineastas franceses que vieram a ser expoentes da Nouvelle Vague, como André Bazin e François Truffaut, através da Cahiers du Cinema passaram a fazer análises profundas e positivas do trabalho de Hitchcock que transgredia o velho modelo de estúdio americano.
Hitchcock era querido pelo público, mas os críticos faziam um julgamento superficial acerca de suas obras por sair da curva do que era considerado um “Cinema de Arte”. Contudo, jovens cineastas franceses que vieram a ser expoentes da Nouvelle Vague, como André Bazin e François Truffaut, através da Cahiers du Cinema passaram a fazer análises profundas e positivas do trabalho de Hitchcock que transgredia o velho modelo de estúdio americano.
Cena de Rear Window (1954) |
Outros dois filmes que Hitchcock realizou e se tornaram
grandes marcos da cultura pop foram Psycho (Psicose, 1960) e The Birds (Os Pássaros,
1963). Ambos com protagonistas loiras, consideradas musas de Hitchcock, punidas
por alguma pretensão que vieram a desenvolver na trama. Os dois mostram com clareza as técnicas
de suspenses e construção de planos atingidas no auge de experiência de um diretor com um estilo muito próprio e ambicioso.
Emblemática cena de Psycho (1960) |
Embora o trabalho de Hitchcock seja hoje apreciado e
reconhecido como uma das grandes potências que o cinema já teve, em competição,
o diretor não levou para a casa nenhum Oscar. Somente em 1968 recebeu o prêmio
pelo conjunto da obra. Já em 1980, quatro meses antes de sua morte, Alfred
recebeu uma Ordem da Cavalaria Britânica das mãos da Rainha Elizabeth II.
Alfred Hitchcock morreu em 29 de abril de 1980 em Los
Angeles devido a insuficiência renal. O diretor pode ter se despedido do mundo,
mas suas obras permanecem e impactam a todos que se colocam para apreciá-la. Veja abaixo o vídeo do diretor recebendo seu Oscar pela sua contribuição à indústria cinematográfica.
Ícone do cinema mundial. Adorei a matéria <3
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