Fatos e Curiosidades: Games no Brasil



Olá, leitores da Revista Jovem Geek, como estão?

É nosso Episódio 3 do Fatos e Curiosidades e desta vez escolhi falar sobre um tema que muitos conhecem, porém não se aprofundam muito: Jogos. Porém, como chegaram ao Brasil, porque acho que muitos nem sabem como foi e que também temos uma boa indústria de jogos por aqui, tanto sobre a história, quanto sobre o mercado atual.
Então, vamos lá!

Pequeno Histórico

Muito se sabe da história dos jogos mundialmente, mas e no Brasil? Bom, é mais ou menos na mesma época.

O primeiro videogame fabricado no país data do final dos anos 70, especificamente em 1973, seu nome era TVBol, que seguia o estilo Pong. Depois surgiram outros como o Telejogo, produzido pela Philco e até o Videorama, feito em Porto Alegre.

Nos anos 80, a briga para ser a empresa representante da Sega aconteceu por aqui, quando a TecToy - que até então era uma empresa nova - ganhou e se tornou a importadora do Master System e do console seguinte: Mega Drive. A empresa foi responsável pela popularização e a "vitória" da Sega sobre a Nintendo - que eram as duas grandes rivais naquela época -, trazendo jogos modificados da  Turma da Mônica, Chapolim, Pica-Pau e Ayrton Senna.

A Gradiente, mais tarde, se tornou a representante da Nintendo no Brasil, através da Playtronic.
Em 1991, a indústria brasileira de games era baseada em consoles e jogos da TecToy e famiclones - videogames clonados, que falaremos mais a frente - de diversos fabricantes. O Brasil era considerado o 4º maior mercado, perdendo apenas para o Japão, Estados Unidos e Europa.

Na geração seguinte, o PlayStation 1 e logo após o PS2 se popularizaram muito e houve muita pirataria com os jogos e que com certeza acontecem até hoje. Quem não lembra de ter um Playstation 2 desbloqueado e de comprar 3 jogos (ou até mais) por apenas 10 reais?




Videogames e Pirataria

A partir do PlayStation e das mídias de CD e DVD, se tornou muito mais fácil piratear jogos. Não é de hoje que uma mídia original custe bem caro por aqui e no início dos anos 2000 não era diferente. Porém, a pirataria no mundo do jogos data de bem antes.

Foi na década de 1980, quando o país passava por um período de alta inflação, elevada dívida externa e déficit público. O governo brasileiro aprovou a Lei da Reserva de Mercado, Lei Federal 7232/84, que proibia a livre importação de bens de informática e também não permitia a entrada de empresas estrangeiras sem que as ações fossem controladas por brasileiros. O objetivo era de estimular a capacitação da mão de obra local e do desenvolvimento da indústria interna. Nascia assim o ambiente perfeito para criação de videogames clones no Brasil. Protegidos por esta lei, criavam cópias dos mais diversos consoles da época, como o Atari 2600 e do Nintendinho - Famicon no Japão, daí que se origina o nome Famiclones.

Empresas como CCE, Gradiente, Dynacom, Milmar e muitas outras fabricaram seus próprios consoles de 8 bits que eram compatíveis com os cartuchos dos originais. Os mais conhecidos eram Dynavision, Phantom System, Top Game, Bit System e Hi Top Game.

E isto não passou com a chegada do Nintendinho em 1993, apenas continuou e até hoje vários consoles piratas são produzidos. Quem não lembra do famoso Poly Station?

Os jogos aqui no Brasil também sempre foram muito caros, fossem em cartucho ou já nos CDs ou até hoje com a mídia digital. Era mais prático - e mais acessível - ter jogos piratas e o videogame desbloqueado. Nem todos tem condições de pagar mais de R$150 ou até R$ 250 num jogo original. Infelizmente o mercado brasileiro é um dos maiores em questão de pirataria, houve uma época que chegou a casa dos 90%, lá no auge do PS2.



Uma indústria valiosa

O Brasil é o 13º maior país no mercado de games e o maior da América Latina. Segundo um estudo da consultoria Newzoo, o valor movimentado é de US$ 1,5 bilhão por ano - cerca de R$ 5,6 bilhões. Estima-se que em 2022, esse número cresça em 5,3%.
Esta mesma pesquisa também mostrou que existem aproximadamente 75,7 milhões de jogadores, onde 83% já compraram algum item virtual nos jogos.

Os maiores responsáveis por essa expansão são os E-sports e os campeonatos de jogos, como League of Legends, Fortnite, Freefire e Counter Strike. Atualmente, até grandes times de futebol, como o Flamengo e o Corinthians, tem seus próprios times de e-sports.

E estas competições movimentam muitas pessoas e dinheiro. Estádios são usados para as grandes finais das competições e os prêmios são altíssimos, na casa de 250 mil dólares - que foi o valor da final do BLAST Pro Series, campeonato de CS que aconteceu em São Paulo. Já a competição brasileira de League of Legends - mais conhecido como CBLOL - deu como prêmio 200 mil reais.

E aqui no Brasil acontece a maior feira de games da América Latina, a Brasil Game Show (BGS). A feira acontece desde 2009 e conta com estandes das mais diversas empresas, eventos especiais e claro, as competições. Os jogadores visitam a feira ávidos para saber das próximas novidades da indústria e conhecer mais de quem está por trás dos jogos que mais gostam.

Há também a Game XP, que também movimenta vários visitantes e campeonatos. O campeonato brasileiro de CS distribuiu 800 mil reais em prêmios.

Pode parecer que é só mais hobby para quem vê de fora e não entende, mas a indústria de games no Brasil continua a crescer e tomar força. Muitas empresas grandes estão percebendo isso e investindo no mercado de games brasileiro. Aliás, temos muitas produções brasileiras e falaremos um pouco sobre elas.


Produção brasileira

Pode parecer que não, mas existem muitos jogos que foram produzidos aqui no Brasil e dos mais variados temas, como por exemplo: Toren - que foi produzido por uma só pessoa; Aritana e a Pena da Harpia - um jogo de plataforma ambientado numa floresta; Oniken - que é um plataforma estilo retrô seguindo o estilo de Ninja Gaiden e até de Contra. Estes são só alguns, porém vou citar aqui outros que acho que se destacam e contar um pouco sobre eles.

A Lenda do Herói

O jogo foi produzido pelo estúdio Dumativa em conjunto com os Castro Brothers - mais conhecidos pelo canal no Youtube, onde produziam músicas que parodiavam jogos. O projeto começou, a princípio, como uma série de vídeos contando a aventura de um herói através de uma canção e que fez um grande sucesso. Em 2016, resolveram transformar a série em um jogo, que foi feito através de financiamento coletivo. Trata-se de um game de plataforma bem tradicional, até com as lutas de chefões no maior esquema de decorar para conseguir passar. Contudo, o diferencial do jogo é a parte da canção, pois a música é cantada e se altera conforme as ações que você realiza no jogo. Até pouco tempo atrás, o game estava disponível apenas em português e a versão em inglês finalmente saiu este ano.


Chroma Squad

Produzido pela Behold Studios e lançado em 2015, o jogo trata-se de um RPG tático inspirado nos super sentais japoneses, como Power Rangers, Kamen Raiden e Jaspion. Na história, você comanda um novo estúdio produtor de super sentais, depois que os atores ficaram cansados da exploração do trabalho anterior. Escolhe os personagens, as cores de seus uniformes, monta a sua equipe e começa a gravar a série. A história tem diversos momentos engraçados e também tem a parte de luta com o "Megazord". Você pode fazer melhorias no estúdio, nos equipamentos, nas roupas e até tem que responder os e-mails dos fãs. É realmente um jogo muito divertido e que vale a pena, especialmente quando se joga em português e tem algumas piadas que só BR entende.


Pocket Bravery

Esse jogo ainda se encontra em produção, mas é uma das esperanças do gênero de luta por aqui. Produzido e desenvolvido pela Statera Studio, o jogo lembra os clássicos jogos como Street Fighter Alpha e Fatal Fury, trazendo o estilo em miniatura como em Pocket Fighter da Capcom. O produtor Jonathan Ferreira - que fazia parte da equipe do Trajes Fatais (outro jogo de luta em produção) - sempre quis criar jogos e chegou a deixar o sonho de lado por muito tempo, mas agora finalmente está desenvolvendo seu primeiro jogo próprio.

O jogo tem um Alpha, onde entusiastas de jogos de luta podem entrar em contato com o estúdio para receber a versão e ajudar a encontrar bugs e melhorar este desenvolvimento. Uma demo do jogo será lançada em 30 de setembro. O game parece bem promissor!


Localização dos jogos

Antes era bem difícil para entendermos boa parte dos jogos, pois poucos (para não dizer nenhum) tinham alguma tradução para português, ou eles eram em inglês ou até em japonês. Então, era necessário a companhia de um dicionário para se compreender. Foi por causa dos videogames que muitos aprenderam inglês.

Porém, hoje em dia há uma facilidade: Jogos localizados. Sejam com legendas ou até dublagem.
Tudo isso se dá com o crescimento do mercado brasileiro, o que fez as empresas perceberem a importância do nosso mercado e investiram na tradução e localização, justamente para facilitar o acesso dos jogadores, mas isso só se tornou realidade na última geração de consoles. Ainda não é uma realidade total, alguns jogos ainda vêm sem tradução. Alguns exemplos de jogos que foram totalmente dublados são: Injustice, Forza Horizon e Assassin's Creed (do BlackFag pra frente). E jogos online também tem suas versões localizadas, como o próprio League of Legends, Hearthstone e até o antigo (e finado) Grand Chase. E claro que nem todas essas dublagens são memoráveis, como a de Battlefield 4 e a Mortal Kombat X, mas nem vamos comentar sobre isso.
Contudo, é interessante ver a preocupação das empresas com nosso mercado e nossos jogadores, tornando a experiência de jogar ainda melhor.

E uma curiosidade, um jogo de 1998 - Grim Fandango - foi um dos primeiros jogos dublados (e legendados) em português. O jogo de aventura da Lucas Arts tem como inspiração o Dia de los Muertos e conta a história de Manny Cavalera e sua jornada para desvendar a teia de corrupção no Mundo dos Mortos e salvar a inocente Mercedes Colomar. Apesar de ser antigo, o jogo vale a pena!


Documentários sobre jogos

Para quem quiser conhecer mais a fundo sobre a história dos jogos no Brasil, existe um série de documentários sobre o tema. Então vou recomendar três!

1983 - O Ano dos videogames no Brasil é documentário produzido em 2017, através de financiamento coletivo no Kickante. É baseado em um livro de mesmo nome do pesquisador Marcus Chiado Garrett e o livro tem uma continuação: 1984 - A Febre dos Videogames Continua. O documentário conta toda a história da chegada – que data do final da Ditadura Militar - e a febre dos videogames que começaram por aqui no final dos anos 80 e início dos anos 90. Ele pode ser assistido diretamente pelo Youtube.



Destravado: Histórias dos Videogames no Brasil é uma produção do History Channel em parceria com o Omelete e reúne as melhores histórias sobre cinco plataformas de games no país. Mostrando como o mercado nacional era desprezado para a venda e distribuição de jogos (até hoje é, em certo ponto), mas nós não queremos ficar de fora dos últimos lançamentos. Há episódios sobre cada console clássico, como o Super Nintendo e o Mega Drive, por exemplo. Ele também está disponível no Youtube.



Paralelos é uma websérie que conta o crescimento da pirataria de jogos no Brasil e a relação dela com o desenvolvimento da nossa cultura com os games. Contando casos como o Phantom System e o do jogo "Mônica no Castelo do Dragão", que é uma versão de "Wonder Boy in Monster Land" de 1987. São três episódios e que podem ser vistos aqui.



Mercado em expansão

Segundo dados do 2º Censo da Indústria Brasileira de Jogos Digitais, feito em 2018, o número de desenvolvedores de jogos cresceu 164% - se comparados com os dados do primeiro censo em 2014 - saltando de 142 para 375. As empresas empregavam 2,7 mil pessoas, alta de 144%.

A maior parte dessas desenvolvedoras estão na região sudeste, especialmente no estado de São Paulo que tem 91 formalizadas e 27 não formalizadas. No Rio, são 26 formalizadas e 14 não formalizadas. Em Minas, são 25 formalizadas e 7 não formalizadas.

Em 2019 o Brasil ganhou a primeira escola de jogos digitais da América Latina. Ela é localizada no Rio de Janeiro, com um estúdio profissional onde os alunos contam com aulas sobre desenvolvimento de games e podem criar projetos para o mercado.

E ao que parece a tendência é só de crescimento e mais oportunidades no mercado de jogos brasileiros. Basta uma pequena pesquisa para ver a quantidade de produtoras e os jogos que estão sendo feitos. Logo vamos colher mais frutos!

Bem pessoal, é isso! Gostaram de saber mais sobre os games no Brasil? Eu espero que sim!
Até a próxima!


Postar um comentário