Uma relação íntima entre a música e a memória: Porque nunca esquecemos certas canções?


"Seu sorriso é tão resplandecente
Que deixou meu coração alegre
Me dê a mão
Pra fugir desta terrível
Escuridão"...

Todos temos músicas que nós trazem memórias boas, músicas que fizeram parte de nossa vida e que muita das vezes nunca esquecemos, os versos acima são da música Dan Dan Kokoro Hikareteku - "Coração de Criança" ou "Sorriso Resplandecente" na versão brasileira, abertura do anime Dragon Ball GT, que marcou a infância de muitos. Sejam elas do meio Geek ou não, as músicas têm um potencial incrível de despertar lembranças e emoções naqueles que as ouvem.

A relação entre a música e a memória é algo que vem se estabelecendo ao longo da evolução humana, no livro How Humans Achieved their Words (Como humanos conquistaram suas palavras, em tradução livre), Dean Falk, antropólogo da Universidade da Flórida menciona que em tempos pré-históricos, as mães tinham que se afastar de seus bebês em intervalos regulares para ter as mãos livres para outras atividades e usavam uma forma de falar com os bebês, uma 'entonação maternal', para tranquilizá-los, este pode ser um dos primeiros contatos com a música.

Outro ponto bastante interessante é a transmissão do saber, civilizações antigas possuíam uma transmissão de conhecimentos de forma verbal, as diferentes culturas ao redor do mundo eram passadas ​​de geração em geração através da tradição oral, e sendo assim dependia da memória do indivíduo. Um ótimo exemplo de transmissão oral são os mitos e lendas que em sua grande maioria possuem a forma de poemas, versos e cantigas.

Mas como a música tem esse efeito na memória? Por que nunca esquecemos de nossas músicas favoritas? Essas são algumas perguntas que ainda não temos explicações, mas a música é uma das poucas armas terapêuticas utilizadas para lidar com o avanço do mal de Alzheimer, a forma mais comum de demência em idosos.

Sabemos que a música, de alguma forma, nos ajuda a criar memórias de nosso primeiro vínculo social, com nossos pais, muitos lembram de canções de ninar cantadas durante sua primeira infância, mesmo que apenas a melodia. Ao longo do crescimento isso se estabelece ainda mais com o aprender da fala, conforme compreendemos o que é dito as memórias se amplificam.

Ao ouvir uma canção diversas áreas do nosso cérebro são ativadas e uma das primeiras coisas que ocorrem, é que nosso centro de prazer é ativado e libera dopamina, neurotransmissor ligado à alegria. Estes neurotransmissores liberados são um dos motivos de que ao ouvirmos uma canção, atribuímos a uma memória, mesmo que estas não sejam as mais felizes, o ato de ouvir uma música favorita e sentir saudade, tristeza e alegria é algo químico e fisiológico.

Por ter um potencial de fisgar nossas memórias, mesmo que ainda sem uma explicação científica 100% efetiva, a música vem sendo usada como terapia em pacientes com demência, principalmente em casos de Alzheimer, demonstrando a capacidade de resgatar memorias e emoções nestes indivíduos.

Recentemente o vídeo de uma idosa chamada Marta González viralizou na internet, Marta era uma bailarina que estudou em Cuba e se apresentou em Nova York em 1960 com sua própria companhia. Ela era conhecida como Marta Cinta, o vídeo mostra ela sentada em uma cadeira e ao ouvir a famosa peça de balé O Lago dos Cisnes, de Pyotr Ilyich Tchaikovsky, parece começar a dançar e relembrar seus movimentos. A senhora do vídeo em questão faleceu no ano de 2019 por conta da doença.

 



Vídeo do canal Musica para despertar: Marta Cinta sentindo as memórias da música

Aos interessados em ler mais sobre o assunto, recomendo a leitura da dissertação de mestrado: Musicoterapia e doença de Alzheimer: um estudo com cônjuges cuidadores do autor Mauro Amoroso Pereira Anastácio Júnior.

Um comentário :