Crítica | Malu é uma das melhores surpresas do Festival do Rio

 

Carol Duarte e Yara de Novaes em cena do filme Malu. 
Reprodução/Divulgação - Pluto Film.

Premiado no Festival do Rio, Malu surge como uma das melhores surpresas do ano. Dirigido por Pedro Freire, esse filme brasileiro se destaca pela habilidade de abordar a vida como ela é com muita intensidade. Nele, conhecemos três gerações da mesma família, três mulheres com traumas, ressentimentos e também afeto entre elas. Assistir essa dinâmica, que é muito bem construída, é capaz de te fazer refletir muito sobre sua própria vida e escolhas, e por isso recomendo muito que você veja.

Trailer do filme Malu. 
Reprodução/Divulgação – Pluto Film.

Mas o que torna essa história tão envolvente?


No filme, somos apresentados a Malu, uma mulher na casa dos cinquenta anos com um passado glorioso. Por ter sido atriz de teatro no período da ditadura militar, ela passou por muitas dificuldades, mas mesmo assim seguiu na arte com o intuito de gerar mudanças, reflexões e, por conta disso, não consegue aceitar o conformismo e das novas gerações.


Malu não se encaixa nesse novo período e, ainda que tenha ambições para o futuro, algo parece impedi-la de seguir em frente. Ela fala muito sobre seu sonho de construir um teatro na sua casa para a comunidade, mas não se move para que isso aconteça. Sua vida se resume a sonhar com esse dia, reviver o passado e reclamar do presente. Seu sonho já tem forma, ela já sabe todos os detalhes do espaço, o que será feito lá, a única coisa que não é feita são os movimentos para realmente chegar lá. Talvez por medo de fracassar, um sentimento que acredito que muitos possam se identificar.


Além desse conflito interno, Malu precisa lidar também com os relacionamentos complexos dentro de sua própria família. Com sua mãe, interpretada por Juliana Carneiro da Cunha, uma idosa conservadora, que nunca entendeu realmente a filha, e Joana, filha de Malu, performada por Carol Duarte, que acaba de voltar do estrangeiro depois de um tempo trabalhando como atriz lá, um reflexo da própria trajetória que Malu tem dificuldade de aceitar.


Ainda que parentes, todas são muito diferentes, cada uma carrega feridas do passado, e é a tensão entre essas dores e o afeto que constrói a narrativa. Embora Malu seja o cerne da história, Joana e Dona Lili também são muito bem apresentadas, seus desejos e frustrações são muito claros e dão ainda mais força ao filme.


Pontos Altos de Malu


Essa profundidade emocional não é por acaso: a personagem foi inspirada na mãe do diretor, a atriz Malu Rocha (1947–2013). Esse detalhe revela por que o filme soa tão autêntico. Seja o constante embate entre gerações ou os traumas de uma relação de afeto, o filme fala com sentimentos quase universais. A necessidade de ser amado, aceito, o desejo que o outro seja similar a você e a impossibilidade de lidar com certas coisas.


Tudo isso é explorado de forma muito pessoal e intensa, muito por conta do elenco, que brilha na tela. As interpretações são algumas vezes brutas, intensas, mas sempre muito naturais. Yara de Novaes traz toda sensibilidade e dose de loucura para o furacão que é Malu e o mesmo posso dizer de Juliana Carneiro da Cunha (Dona Lili) e Carol Duarte (Joana).


Além disso, o trabalho de ambientação e fotografia simples também colaboram muito nessa construção. Não parece algo cinematográfico, mas um retrato da vida que poderia ser de qualquer pessoa. Outro ponto de destaque é a direção e roteiro de Pedro Freire, que consegue trazer dinamismo a um tipo de obra que muitas vezes pode acabar monótona. Não é o caso de Malu, com um ritmo muito equilibrado, prepare-se para rir, refletir e se emocionar.


Dito tudo isso, recomendo demais que vejam, não só para se entreter, mas para crescer pessoalmente também. Mais do que entretenimento, Malu nos convida a refletir sobre nossas escolhas e, quem sabe, quebrar padrões que nem percebíamos seguir.







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