Crítica: The Outrun | Saoirse Ronan brilha mais uma vez no cinema

 

Saoirse Ronan em cena do filme The Outrun.
Reprodução/Divulgação — Sony Pictures.

The Outrun é um daqueles filmes necessários; talvez você nunca veja uma segunda vez, mas a primeira, sem dúvida, pode ser uma experiência intensa e muito valiosa. Seu début mundial foi em janeiro de 2024 no Festival de Sundance e, desde então, o filme tem gerado grande impacto por onde passa e não podia ser diferente no Festival do Rio.


Baseado na autobiografia da jornalista Amy Liptrot de mesmo nome, a produção narra com muita sensibilidade sua jornada lidando com o alcoolismo. Rona, interpretada por Saoirse Ronan, se vê no fundo do poço e se muda de Londres para a sua terra natal, as Ilhas Órcades na Escócia, em busca de uma normalidade e recuperação de seu senso de si.

A partir desse retorno, conhecemos um pouco mais sobre as origens de seus problemas emocionais e entramos em um processo de cura e descobertas com a protagonista.


Saoirse Ronan brilha em The Outrun provando sua versatilidade mais uma vez


Trailer The Outrun. Reprodução/Divulgação — Sony Pictures.

Com uma narrativa não linear que reúne acontecimentos de momentos variados, a atriz, conhecida por seu trabalho em Lady Bird, tem a oportunidade de explorar diferentes sentimentos que uma pessoa viciada precisa vivenciar em seu caminho de reabilitação. Essa escolha é bastante interessante e dá mais intensidade ao filme, que tenta ilustrar a mente de um alcoólatra em tratamento que segue refletindo sobre os erros cometidos e os traumas que podem tê-lo levado até ali. 


No entanto, ainda que o artifício seja válido e bem utilizado na maior parte do tempo, ele pode se tornar confuso em certos momentos, deixando o público incerto sobre quando aquelas lembranças ocorreram. Embora o uso de diferentes cores no cabelo de Saoirse Ronan tenha sido uma ferramenta interessante para dar ao espectador um senso de linearidade, nem sempre ele consegue por si só ser a bússola de que a narrativa precisa.


Porém, apesar desse deslize, isso não faz de The Outrun um filme menos impactante, já que os sentimentos de Ronan são muito bem interpretados pela atriz. Seu desespero e desejo de liberdade se sobressaem na tela, criando um sentimento de angústia muito grande em quem assiste. 


A audiência quer desesperadamente que ela melhore e entende sem dificuldade o quanto isso é desafiador, mas ainda assim possível se a pessoa enfrentar a luta um dia de cada vez. Gradualmente, as coisas passam a ser um pouco mais fáceis, mudando o tom do filme de um estado de sofrimento para uma esperança latente.


Um filme único e necessário


Saoirse Ronan em cena do filme The Outrun.
Reprodução/Divulgação — Sony Pictures.

Outro ponto alto da narrativa são as paisagens, com um ambiente frio e desolador. As Ilhas Órcades na Escócia representam bem os sentimentos intensos e complexos de Rona. Um lugar lindo, mas tão desesperador quanto a própria mente da personagem, o que exemplifica bem como todos estamos sozinhos nas nossas lutas. O apoio das pessoas à nossa volta é importante, mas se você não fizer sua parte, de nada adianta. Essa verdade é descoberta pela protagonista, que encontra na natureza uma possibilidade de conexão e de um novo propósito.


Sem banalizar a luta contra o alcoolismo, The Outrun é necessário por mostrar que essa doença não é exclusiva de um gênero ou classe social. Todos podem se tornar vítimas dele, e se acontecer com você, não vai ser bonito. A personagem principal destruiu sua vida em Londres por conta do seu vício e até que ela pudesse reconstruí-la levou tempo, e foi um processo muito doloroso. 


Com o fácil acesso ao álcool, nem sempre abordamos os danos que eles podem causar à vida de alcoólatras e todos à sua volta, e se tem uma mensagem que o filme passa é essa. Alcoolismo não é uma escolha; ninguém escolhe machucar as pessoas à sua volta e perder tudo que construiu. Trazer isso com a sensibilidade que o filme trouxe é emocionante, especialmente por deixar claro que, embora Rona tenha cometido erros terríveis, ela também é capaz de coisas lindas.


O vício não foi o fim, mas um novo começo


A protagonista precisou reaprender a lidar com suas frustrações e a encontrar um novo propósito na vida. Uma trajetória complexa, que Saoirse Ronan conduziu com perfeição ao trazer todos os sentimentos à tona. Mesmo nas cenas em que não era necessário dizer nada. 


Ainda que não seja um filme fácil de assistir por conta de seu tema, é definitivamente um longa-metragem que vale a pena investir seu tempo. The Outrun não é apenas sobre a luta contra o alcoolismo, mas uma reflexão sobre a eterna capacidade de transformação dos seres humanos. Mesmo nos momentos mais impensáveis existe esperança no caminho do perdão aos próprios erros. 


É como se o longa nos lembrasse gentilmente que a recuperação é um processo que vale a pena enfrentar. Seja sua questão, o alcoolismo, ou algo completamente diferente, é possível se reconstruir e se tornar alguém diferente, tudo o que você precisa é de um propósito e muita determinação.




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